Outro dia, um amigo dizia que estava bravo lidando com os complicados assuntos que atravancavam seu ambiente logo cedinho: computador travando, criança chorando, zonzeira da ressaca, contas a pagar, aniversário... e nisto chegou a mulher com uma chícara de café e um sorriso.
Falta-nos identificar e honrar a figura feminina e doce da Liberdade, das liberdades que já conquistamos, em todos seus aspectos, colada aos nossos atos todo santo dia, para superar a miríade de assuntos complicados que visitam a pauta dos jornais e as cabeças ainda pensantes desta nação.
Na seca prolongada os bodes estão de pé, apoiados com as patas dianteiras nos galhos baixos para comer as últimas folhinhas verdes das árvores jovens que resistem no deserto norte/nordestino. E tem gente com sede e tem gente com fome e tem gente morrendo, bode, boi, bicho do mato.
E continua tudo como d’antes no quartel de Abrantes: promessas, anúncios bombásticos, ideologias, roubalheira, exploração de trabalho e prostituição infantil, muita bunda na tv, leite adulterado, bandidos soltos, bolsa em alta, crédito fácil, cartolas prostituindo times, banqueiros desviando grana, desmatamento, apagão, pavonices políticas... listagem quilométrica ao gosto de cada um, com recheio de mentiras e distorções e promessas dos gestores, capatazes e assaltantes oficiais, legais, vitalícios quase. Assuntos que nem militares, nem populistas, direitistas, esquerdistas, acadêmicos, foram capazes de superar.
- Começou a passeata?
- Inda não, tá marcada para 31 de fevereiro
- E a Venezuela?
- O Brizola de lá tá fazendo o papel dele direitinho... você vê semelhanças entre o Brizola radical de 64 e o Chavez?
Não, o Brizola era um nacionalista radical, não marxista naquele momento histórico dos anos 60. A aproximação com o extremismo de esquerda foi posterior, diria mesmo oportunista, no exílio do Uruguai recebendo apoio dos Tupamaros que o levaram a Fidel Castro, discretamente. Recebeu de Cuba uma grana razoável para agitar guerrilhas e diplomaticamente relacionou-se com as cobras criadas do comunismo castrista.
Manobrava para tirar proveito enquanto fortalecia seu projeto pessoal de poder eqüidistante do “imperialismo americano” e do “imperialismo comunista”. Imagino que esperava outra quartelada, ou movimento popular contra os militares, uma “volta por cima” para “fechar o Brasil”, arrumar a casa e então inaugurar uma política externa soberana. Ditador como Getulio? É possível. Mas serviçal de russos ou chineses ou a Cuba como o Chavez, com certeza não.
Saindo expulso do exílio uruguaio, foi para os Estados Unidos e depois para a Europa, onde encontrou guarida junto dos sociais democratas. Por que não foi para a Rússia, China ou Cuba, como fizeram os poderosos do momento?
Naquele momento, Brizola era um político experiente, maduro, diferente da molecada destrambelhada e com pouca formação, presa fácil das idéias extremistas. Maioria desta gente que hoje dá as cartas era estudante ou tinha formação incompleta. Cresceu frustrada, no exílio ou na guerrilha, alimentando o ódio e buscando esconder a própria inconstância e fragilidade com a agressividade que ainda hoje atiram contra os militares.
Pensam miúdo, os miolos atrofiados, não suportam uma estrutura mental superior para ver os contornos essenciais da história, da crueldade dos mitos que veneram, da individualidade e liberdade construtiva que troca fraldas, que lida com os computadores travados, contas a pagar e família amorosa, forte e decisiva para a luta do dia a dia, sobrevivência com fé em si mesmo, dignidade, caráter, ética, personalidade, na direção da humanidade desejada.
Era um controlador, negociador inflexível mas não grosseiro ao ponto de cultuar tão descaradamente a própria imagem. Personalista sim, mas não abriria as pernas para o Fidel como fazem Chavez e outros que necessitam bengalas e ícones para apoiar-se.
Se o Brizola de 64 tivesse chegado ao poder, trataria o índio cocaleiro e o Chavez com autoridade de estadista e não com o amiguismo do colega de clube do Foro São Paulo, ou amigo entre torcedores do Corínthians... E certamente não estaria financiando o MST e via campesina.
O Jango estava de saco cheio das pressões sindicalistas, entregou o ouro para evitar o pior... comunismo. Ele, como Brizola respeitavam e tinham amigos influentes entre os militares, foram educados respeitando valores conservadores. O populismo de ambos vem da escola de Getulio Vargas, um homem que pensou em Brasil, um estadista em sua época.
E sem dúvida, se Brizola tivesse assumido o poder em 89 os rumos deste país seriam diferentes e estas ongs estrangeiras financiadas pelos ingleses não estariam ocupando o território nacional, as forças armadas com certeza estariam fortalecidas e atentas, com autoridade para atuar e impedir esta invasão branca, este domínio territorial silencioso que os atuais mandantes permitem e apadrinham.
E a nação aparvalhada, com a mente anestesiada, ignora.
- Hoje não temos opção. E sabe quem é a candidata do controlador? A Heloísa Helena. Vão jogar pesado em cima dela...
- Aí é que a vaca vai prô brejo...
- Esta mulher é uma enganadora é uma internacionalista fanática que não entende nada de Brasil. Só leu cartilha de esquerda radicalóide.
O que mais me preocupa é não termos uma liderança conservadora, sem ideologias dominando, capaz de apresentar um projeto nacional claro, fácil do povão entender e que seja aplicado de verdade em favor do Brasil, sem que viremos uma Cuba às avessas, fechada para o resto do mundo.
Este é o nosso grande nó...
- E continuamos falando em direita e esquerda no campo político. Isto existe?
Os campos políticos aqui estão bem delimitados: revolucionários no poder trabalhando para fixar o continuísmo totalitário, identificados pela mídia como se fossem neo democratas e do outro lado os “bandidos” direitistas, conservadores tradicionais associados sempre aos “militares bandidos”. No campo aberto os que produzem, os desempregados, os não qualificados, os miseráveis, os dirigentes aproveitando as marés de negócios legais ou escusos... todos abestalhados. Uns videotas repetindo a propaganda do governo, outros “apolíticos” (existe isto? Ou covardia?)
Os conservadores não foram educados para pensar num plano de poder e não têm voz suficiente para difundir as idéias para a construção serena de uma sociedade fundada em liberdades democráticas. Nem nós.
- “Sem idéias e propostas claras, não vão tomar o poder nunca. Não temos pré-condições para um projeto de poder mais consistente e os conservadores só enxergam a tomada do poder igual a 64, com iniciativa das Forças Armadas”.
Não fosse a greve geral decretada pela CGT em 1º de Abril de 1964, que inviabillizou o deslocamento e reunião dos comunistas e agitadores, teria havido um banho de sangue. Mas sem transportes e com nada montado porque acreditavam no “esquema militar do partidão”, nos grupos dos onze, com a fuga de Goulart facilitou-se a tomada do poder pelos militares. O Prestes fugiu tão depressa que abandonou uma dezena de cadernos detalhando ações e integrantes do seu pcb. As novas autoridades agradeceram.
É neste pé que estamos. E agora José? Os revolucionários chegaram. Onde estão os conservadores? Onde estão os que acreditam na possibilidade de ampliação das liberdades democráticas, acreditam numa justiça independente, numa nação soberana?
Por Arlindo Montenegro - Apicultor e criador de bodes - foto acima.
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